“E acendeu-se a ira de Eliú, filho de Baraquel, o buzita, da família de Rão; contra Job se acendeu a sua ira, porque se justificava a si mesmo, mais do que a Deus.” Job 32:2
Curiosamente os primeiros 31 capítulos do livro de Job nada dizem acerca deste homem. Não sabemos em que momento chegou junto de Job e seus três amigos, Elifaz, Sofar e Bildad, mas sabemos que Eliú presenciou, se não toda, pelo menos uma boa parte da conversação, “porém, esperou para falar a Job, porquanto tinham mais idade do que ele.” (Job 32:4). Mas no capítulo 32 ele começa a falar, e o seu discurso é que vai revelar a Job a razão do seu sofrimento.
"Vendo, pois, Eliú que já não havia resposta na boca daqueles três homens, a sua ira se acendeu. E respondeu Eliú, filho de Baraquel, o buzita, dizendo: (...) Também eu responderei pela minha parte; também eu declararei a minha opinião. Porque estou cheio de palavras; o meu espírito me constrange. Falarei, para que ache alívio; abrirei os meus lábios, e responderei. (...) Que não faça eu acepção de pessoas, nem use de palavras lisonjeiras com o homem! Job 32:5,6,17,18,20,21.
"Assim, na verdade, ó Job, ouve as minhas razões, e dá ouvidos a todas as minhas palavras. (...) Se podes, responde-me, põe em ordem as tuas razões diante de mim, e apresenta-te. (...) Na verdade tu falaste aos meus ouvidos; e eu ouvi a voz das tuas palavras. Dizias: Limpo estou, sem transgressão; puro sou, e não tenho iniquidade. (...) Eis que nisso não tens razão; eu te respondo; porque maior é Deus do que o homem." Job 33:1,5,8, 9,11,12.
Eliú agora, referindo-se a este incidente, disse: "Deus fala uma e duas vezes; porém ninguém atenta para isso. Em sonho ou em visão noturna, quando cai sono profundo sobre os homens, e adormecem na cama. Então o revela ao ouvido dos homens, e lhes sela a sua instrução, para apartar o homem daquilo que faz, e esconder do homem a soberba. Para desviar a sua alma da cova, e a sua vida de passar pela espada. Também na sua cama é castigado com dores; e com incessante contenda nos seus ossos; De modo que a sua vida abomina até o pão, e a sua alma a comida apetecível. Desaparece a sua carne a olhos vistos, e os seus ossos, que não se viam, agora aparecem. E a sua alma se vai chegando à cova". Job 33:14-22.
"Assim me deram por herança meses de vaidade; e noites de trabalho me prepararam. Deitando-me a dormir, então digo: Quando me levantarei? Mas comprida é a noite, e farto-me de me revolver na cama até à alva. A minha carne se tem vestido de vermes e de torrões de pó; a minha pele está gretada, e se fez abominável. " Jó 7:3-5.
"Ou comer-se-á sem sal o que é insípido? Ou haverá gosto na clara do ovo? A minha alma recusa tocá-las, pois são para mim como comida repugnante." Jó 6:6,7.
"Dizendo eu: Consolar-me-á a minha cama; meu leito aliviará a minha ánsia; Então me espantas com sonhos, e com visões me assombras; Assim a minha alma escolheria antes a estrangulação; e antes a morte do que a vida. A minha vida abomino, pois não viveria para sempre; retira-te de mim; pois vaidade são os meus dias." Jó 7:13-16
"A minha alma tem tédio da minha vida". Jó 10:1.
Continuando a analisar o discurso de Eliú, no cap. 33, podemos entender claramente qual foi o papel de Eliú. Ele foi o intérprete, o mensageiro que declarou a Jó a sua rectidão, ou seja, o seu dever:
"Se com ele, pois, houver um mensageiro, um intérprete, um entre milhares, para declarar ao homem qual é o seu dever, então terá misericórdia dele, e lhe dirá: Livra-o, para que não desça à cova; já achei resgate."(v. 23, 24)
E, finalmente, temos uma bonita promessa àqueles que aceitam a repreensão do Senhor e se apartam dos seus pecados:
Como veremos mais adiante, esta promessa cumpriu-se na vida de Jó, porque ele aceitou a repreensão e arrependeu-se da sua amargura contra Deus e da sua justiça própria.
Eliú continuou a falar a Jó: "Olhará para os homens, e dirá: Pequei, e perverti o direito, o que de nada me aproveitou. Porém Deus livrou a minha alma de ir para a cova, e a minha vida verá a luz. Eis que tudo isto é obra de Deus, duas e três vezes para com o homem, para desviar a sua alma da perdição, e o iluminar com a luz dos viventes. Escuta, pois, ó Jó, ouve-me; cala-te, e eu falarei. Se tens alguma coisa que dizer, responde-me; fala, porque desejo justificar-te. Se não, escuta-me tu; cala-te, e ensinar-te-ei a sabedoria." (v. 27-33).
O Caminho da Justiça
Eliú, como um verdadeiro mensageiro do Senhor, desejava que Jó fosse justificado, por isso queria ensinar-lhe o caminho da justiça (Mt. 21:32), ou seja, o único meio pelo qual Jó se poderia tornar justo. Para isso teve de lhe mostrar primeiro como ele estava no caminho errado (Mt. 5:20). Jó estava errado na forma como via a Deus e a si próprio. Eliú vai defender a justiça de Deus:
"Jó disse: Sou justo, e Deus tirou o meu direito. Apesar do meu direito sou considerado mentiroso; a minha ferida é incurável, embora eu esteja sem transgressão. (...) Porque disse: De nada aproveita ao homem o comprazer-se em Deus. Portanto vós, homens de entendimento, escutai-me: Longe de Deus esteja o praticar a maldade e do Todo-Poderoso o cometer a perversidade! Porque, segundo a obra do homem, ele lhe paga; e faz a cada um segundo o seu caminho. Também, na verdade, Deus não procede impiamente; nem o Todo-Poderoso perverte o juízo. (...) Porventura o que odiasse o direito se firmaria? E tu condenarias aquele que é justo e poderoso? Ou dir-se-á a um rei: Oh! Vil? Ou aos príncipes: Oh! ímpios? Quanto menos àquele, que não faz acepção das pessoas de príncipes, nem estima o rico mais do que o pobre; porque todos são obras de suas mãos. (...) Jó falou sem conhecimento; e às suas palavras falta prudência. Pai meu! Provado seja Jó até ao fim, pelas suas respostas próprias de homens malignos. Porque ao seu pecado acrescenta a transgressão; entre nós bate palmas, e multiplica contra Deus as suas palavras." Jó 34:5,6,9-12,17,35-37.
"Espera-me um pouco, e mostrar-te-ei que ainda há razões a favor de Deus. De longe trarei o meu conhecimento; e ao meu Criador atribuirei a justiça. Porque na verdade, as minhas palavras não serão falsas; contigo está um que tem perfeito conhecimento. Eis que Deus é mui grande, contudo a ninguém despreza; grande é em força e sabedoria. Ele não preserva a vida do ímpio, e faz justiça aos aflitos. Do justo não tira os seus olhos; antes estão com os reis no trono; ali os assenta para sempre, e assim são exaltados. (...) Mas tu estás cheio do juízo do ímpio; o juízo e a justiça te sustentam. Porquanto há furor, guarda-te de que não sejas atingido pelo castigo violento, pois nem com resgate algum te livrarias dele." Jó 36:1-3,5-7,18.
"Lembra-te de engrandecer a sua obra, que os homens contemplam. Todos os homens a vêem, e o homem a enxerga de longe. Eis que Deus é grande, e nós não o compreendemos, e o número dos seus anos não se pode esquadrinhar." Jó 36:24,26.
"A isto, ó Jó, inclina os teus ouvidos; pára, e considera as maravilhas de Deus. Porventura sabes tu como Deus as opera... ? Tens tu notícia do equilíbrio das grossas nuvens e das maravilhas daquele que é perfeito nos conhecimentos? (...) Ao Todo-Poderoso não podemos alcançar; grande é em poder; porém a ninguém oprime em juízo e grandeza de justiça." Jó 37:14-16,23.
O Remanescente Fiel
Enquanto Jó é um símbolo de Laodiceia, pela sua justiça própria, Eliú representa os mensageiros que Deus utiliza hoje para mostrar a Laodiceia o seu pecado e "livrar a sua alma da espada", ou seja livrá-los de serem vomitados. (Ez. 9; Ap. 3:16-19)
Tal como nos dias de Eliú, aqueles que defendem a honra e justiça de Deus, aqueles que chamam o pecado pelo seu nome e "não temem reprovar pecados populares", também hoje são apenas "um entre milhares". Mas eles existem. Pelo fruto se conhece a árvore.